"Admitamos que somos corruptos"

Interessante entrevista do cientista político Bolivar Lamounier ao Estadão.

Algumas coisas ditas por ele são tão óbvias, que nos espanta que não consigamos lidar com elas, como por exemplo, quando elegemos alguém ou mesmo como participamos do próprio processo eleitoral (a tal da festa da democracia).

Estamos às portas, novamente, de eleições. Novamente, por certo, ouviremos os tradicionais clichês de que "político é tudo ladrão", "vão roubar, mas não com o meu voto", "votar pra que? Não muda nada", etc., etc., etc...

Normalmente, os donos das bocas que papagueiam estas "verdades absolutas" tiveram alguma oportunidade de (boa) formação, possuem (ainda) um poder aquisitivo, relativamente à média da população, bastante razoável, tem seu filhos e anseiam - como no texto - que estes tenham melhores oportunidades que eles próprios e por aí vai.

Em tese, através deles de sua mais que provável vontade de evoluir, teríamos simultaneamente, o crescimento da própria sociedade. Mas, ao contrário e, corroborando a tese do texto, o que temos são pessoas que querem evoluir sim, se possível com o menor esforço e da mesma forma que o fizeram aqueles que são os alvos das suas próprias críticas!

Temos agora mesmo, no caso da lei seca, um exemplo claro: o cabra que afirma que político "é tudo ladrão e corrupto", com toda a certeza, se tiver oportunidade, vai preferir pagar a cervejinha do guarda à perder a carteira ou pagar a própria multa. Cumprir a lei e não dirigir se rolar uma caninha, nem pensar!!! E, se pego for, sempre há o jeitinho...

Qual a diferença entre esta corrupçãozinha aqui e a dos mensaleiros? São desproporcionais quanto ao valor, concordo, mas por princípio e mecânica, absolutamente iguais entre si!

O que fazer pra melhorar? Não sei se existe receita, sei o que faço por achar que é o certo.Tento fazer com que minhas práticas não divirjam de meus princípios. Se divergirem, tento e quero ser crítico, essencialmente pra melhorar.

Se o guardinha me achaca, vamos pra delegacia ou pago a multa. Se estiver no direito de reclamar, reclamo, senão (errei porra!) entubo. Puto, mas entubo sim.

Sei em quem votei, cobro (e por isso, pela facilidade que ela hoje nos oferece, viva a Internet) os cabras. Com isso, sei de quem vou falar bem e de quem vou falar mal nas próximas eleições, exercendo o meu parco poder de influência.

Sei em quem não vou votar e naqueles em quem eu talvez vote (preciso ouvir mais, ler mais, pesquisar mais).

Não sonego pra poder ter o direito (ou a consciência limpa) de cobrar destes em que votei, que trabalhem - se me prometeram isto - para que meu imposto seja menor.

Posso parecer piegas, tudo bem, é o jeitinho... Mas garanto que, embora puto, durmo com a consciência tranqüila.

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